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JORNAL ARTIS Nº 3 – PÁGINA 11




A arte nas ruas de Santa Cruz do Sul tem uma figura que já é típica aos nossos olhos, Ernesto Bernardino da Rosa Azevedo é o desenhista que realiza e expõe seus trabalhos de retratismo na Rua Marechal Floriano, em seu já conhecido atelier ao ar livre em frente ao Colégio São Luís.

Autodidata, o rio-pardense de 42 anos começou a praticar sua arte desde criança e com o passar dos anos decidiu que não gostaria de deixar sua brincadeira mais amada de lado, decidindo encarar o desenho como uma profissão. Então, desde 1995 foi para as ruas mostrar e vender seu trabalho, além de aperfeiçoar suas técnicas. Já passou pelas cidades de Porto Alegre e Canoas, onde conheceu muitos artistas de rua e fez boas amizades e também aprendeu muito. Ernesto não considera arte como concorrência, cada artista se expressa da sua forma, e seu publico irá identificar-se com ele mesmo se existirem muitos outros trabalhos diferentes a sua disposição. Relata que em Porto Alegre havia muitos artistas na rua e todos conseguiam vender muito bem os seus trabalhos, sem jamais surgir algum tipo de desavença. Até mesmo porque a cidade que tem um maior número de artistas nas ruas tem, a olhos vistos, uma maior diversidade cultural. “Gostaria de convidar os artistas santa-cruzenses para virem as ruas”, complementa Ernesto, empolgado.

Fazer sua arte em Santa Cruz é para ele bem interessante, com certeza as pessoas daqui gostam de trabalhos diferentes das outras cidades pelas quais ele passou, “O publico daqui quer perfeição (detalhes) não está acostumado a técnicas mais soltas”, comenta Ernesto. Mas isso não prejudica seu trabalho já que o grafite proporciona tanto o que ele gosta como o que os santa-cruzenses querem ver. Seu trabalho na rua é baseado na observação das formas humanas, na correria do dia-a-dia Ernesto direciona sua observação para fotos, já que ninguém mais tem tempo para ficar em pose até que os traços fiquem prontos.


Para quem pensa que Ernesto limita-se apenas ao lápis, descobrimos um artista completo que com influências do cubismo de Pablo Picasso e o impressionismo de Vincent Van Gogh, trabalha com pintura em tela (acrílico e óleo) e escultura. Ernesto diz não trabalhar com escultura na rua pela dificuldade de transportar o material, que é bem mais volumoso que o material utilizado para desenho. Ele ressalta que em suas pinturas busca sempre como temática a arte sacra e costuma fazer na maioria das vezes para si próprio, os quais ficam expostos nas paredes de sua casa. Sua visão da sociedade no momento ao qual estamos passando o preocupa um pouco, segundo ele a arte está pendendo para o lado da banalização, um exemplo disso seria o uso da nudez como apelo comercial, “Não tenho nada contra quem o faz, mas na minha opinião é uma certa banalização da imagem principalmente da mulher, pois as propagandas de TV e outdoors já fazem isso e não acho interessante reproduzir na minha arte, acredito que tem formas mais interessantes de mostrar a sensualidade”, comenta o artista. -O sentimento que mais motiva sua vida e sua arte é a liberdade, a sensação de poder fazer e estar fazendo exatamente o que quer. “Estar na rua, perto das pessoas, é uma mistura de liberdade com aprendizado”.
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Cultura e Democracia


No dia 7 de outubro nossa cidade realizou a sua primeira Conferência Municipal de Cultura, a qual, apesar de pouco público, trouxe importantes debates sobre o setor em Santa Cruz. Basicamente quem participou dos debates foram as mesmas pessoas que participam do Fórum da Cultura e as discussões da conferência acabaram sendo balizadas pelo que se discute no fórum desde a sua criação, em dezembro de 2008. Isso mostra claramente a importância desse espaço e também respaldou o mesmo perante o poder público, que usou suas resoluções como base para a criação do Conselho Municipal de Cultura (CMC). É inegável que os conselhos, quando bem articulados, são o mais próximo de uma verdadeira democracia onde os principais envolvidos com o setor decidem sobre as políticas públicas e sociais para o mesmo. Quando a criação de conselhos é feita de cima para baixo, ou seja, a população se reúne e decide por cobrar do poder público (seus representantes) que essa é sua vontade; a legitimidade do processo é imensamente maior.

Esse processo de construção, que tem como premissa as decisões horizontais que buscam um consenso, tem seu preço. Como todos os processos verdadeiramente democráticos (o que podemos chamar de democracia de base) as discussões são longas e parecem infinitas, pois dentro de uma grande diversidade se busca o consenso. O Fórum sentiu isso na carne ao discutir os setores que estarão representados no CMC, quem esteve de fora das decisões (por escolha própria e não por falta de convite ou divulgação) pode não entender porque a “Arte e Cultura de Rua” tem um assento no conselho enquanto outros setores ou entidades que a primeira vista seriam considerados natos não estão tem de entender e aceitar que aqueles que realmente se interessam pela cultura e sua democratização estiveram no Fórum da Cultura e defenderam suas posições e seus espaços. Mas o nome disso tudo que aconteceu é democracia, democracia de verdade, ou o mais perto que a situação nos permitiu chegar.

Joe Nunes
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