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JORNAL ARTIS Nº 01 - PÁGINA 11

Na noite em que fazíamos a matéria sobre dança de rua ligamos a televisão na MTV para ter um bom embalo para escrever sobre Hip-Hop e Break. Coincidentemente a propaganda que passava era justamente um especial do criador daquele famoso passo, o “moonwalker”, ou seja, seria a trilha sonora perfeita! O irônico e estarrecedor fato é de que estávamos acompanhando em primeira mão as notícias da morte de Michael Jackson.

Apesar de fã do bom e velho Rock n’ Roll e do Blues sempre reconheci o talento de Michael Jackson. Impossível não reconhecer o quanto o vídeo-clip “Thriller” marcou minha infância e contribuiu para o meu imaginário de desenhista e fã de filmes de terror, os riffs de guitarra em Beat It são comparáveis aos das melhores bandas de Heavy Metal. Afora meu gosto pessoal o que sei é que esse cara marcou as nossas vidas de uma forma ou de outra. A morte de Michael Jackon marca o final de uma era em que os ídolos eram eternos, nosso mundo agora está cada vez mais superficial e o sucesso não dura mais meras semanas ou meses. Apesar de todos os escândalos que envolveram o final de sua carreira, sabemos que com o menino que não queria crescer também morreu um pouco de nossa inocência, um pouco de nossa fé no futuro.

Meu pai sempre disse ter passado anos ensinando o filho dele a andar para frente e de repente veio um cara e ensina ele a andar para trás. Bem, na verdade eu ainda não aprendi a fazer isso, mas ainda continuo tentando, ao som de Showin' how funky and strong is your fightIt doesn't matter who's wrong or right...

Joe Nunes




ARTE E REALIDADE


Por Vanessa Schuh

A quinta arte não surgiu como forma de criação de um gênio, tampouco de métodos ou estudos acadêmicos, o que se sabe da história é que ela sempre existiu. Povos primitivos, nas mais diferentes culturas, sempre sentiram necessidade de socializar suas descobertas, seus atos heróicos, contar suas histórias, materializar suas divindades; enfim, de se expressar através do “ver/enxergar” (verbos gregos dos quais deriva a palavra que hoje conhecemos como teatro). Com o decorrer dos tempos o teatro passou a ter um formato mais homogêneo nas culturas dos países ocidentais, ganhando um caráter mais educativo, segundo os pesquisadores, surgindo assim as “casas de teatro”. A partir de então o teatro começou a mostrar vertentes, ou seja, diferentes formas de encenações, dentro das quais está o “teatro Popular”, que surgiu para mudar um pouco o caráter elitista que o teatro conquistou no processo de sua evolução.
O teatro popular surgiu por meados do século XX, a partir da necessidade de dar ao teatro um formato mais político-social, descobrindo nas mazelas sociais fonte de inspiração para a sua dramaturgia, podendo assim ser levado as mais diversas camadas da sociedade, podendo ser apresentado em circos, praças e espaços públicos, em resumo, um teatro feito pelo povo e voltado para o povo. Os primeiros a mostrar interesse por esse gênero foram grupos de atores pequenos burgueses, onde tiveram como grande inspirador, o dramaturgo alemão Bertold Brecht (1898 – 1956) e seu teatro épico, que coloca os trabalhadores e pessoas comuns como os grandes heróis de seus enredos. Atualmente o teatro popular encontra-se com muita força, é bastante comum em escolas da rede publica, em ruas de bairros, em meio às lutas dos movimentos sociais e em quaisquer outros espaços onde haja alguma forma de opressão ou injustiças sociais. No Brasil o grande nome é Augusto Boal (1931 - 2009) que, com o seu teatro do oprimido, traz um caráter de resistência à ditadura militar dos anos 60 e 70, trabalhando o protagonismo do povo nas lutas sociais e políticas.


Dos últimos anos da ditadura e nascido das manifestações políticas, de linguagem popular e intervenção direta no cotidiano da cidade, como o próprio teatro de rua que faz, é a Tribo de Atuadores “ÓI Nóis Aqui Traveiz”, um dos grandes nomes do teatro popular que perdura até hoje, com 31 anos de existência e resistência.


Bebendo na fonte de Brecht e do Teatro da Crueldade, do francês Antonin Artaud (1896 – 1948) a trupe porto-alegrense traz diretamente de seu laboratório, a Terreira da Tribo (onde trabalha com oficinas de vivência), para as ruas sua proposta centrada no contato direto entre atores e espectadores, transcendendo a clássica divisão palco/platéia. O Ói Nóis esteve recentemente em Santa Cruz, na praça Getulio Vargas, onde nos trouxe o espetáculo “O Amargo Santo da Purificação”, que é uma visão alegórica da vida, paixão e morte do revolucionário Carlos Mariguela.O teatro Popular é uma importante manifestação dos sentimentos do povo, povo este que cansado de tanta injustiça, busca assim como os povos primitivos mostrar sua vida cotidiana, um dia-a-dia que teve como espelho o teatro épico, da crueldade, do oprimido entre outros, correntes estas que complementam o teatro popular como forma de alerta aos problemas sociais. Sendo assim, será que se acabarem as desigualdades sociais acabará também o teatro popular? Creio que não. Mas com certeza surgiriam novas correntes que buscariam inspiração em coisas belas.
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