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JORNAL ARTIS Nº 02 - PÁGINA 02


Contando as histórias de nossos artistas. É assim que seguimos nessa segunda edição do Artis, nos propusemos a mostrar esse universo rico e fascinante e acabamos descobrindo que ele também é curioso e encantador. Em cada artista uma vida inteira de dedicação, sonhos realizados e tantos outros a se correr atrás. Nas entrelinhas do que não tivemos espaço para publicar ficam as boas conversas, histórias divertidas e também as tristezas desses gênios, loucos, sonhadores e sofredores seres que vieram ao mundo para nos fazer pensar, sentir, sorrir, chorar e, acima de tudo, descobrir que existe beleza até mesmo na tristeza, quando ela nos é contada com arte.

Mais uma vez agradecemos a gentileza de todos os artistas e pessoas que de muitas formas colaboraram com essa segunda edição. Também as empresas que nos apoiaram e apostaram junto conosco em nosso projeto. Agradecemos aos inúmeros comentários e elogios a nossa primeira edição, pois eles nos foram fundamentais para darmos continuidade a essa jornada pelo mundo da arte de Santa Cruz do Sul, uma jornada que está apenas começando.

Equipe Jornal Artis

“Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver.” – Bertold Brecht





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Num texto muito instigante – Imigração e Colonização: Utopia e Identidade – publicado na revista do Mestrado em Desenvolvimento Regional da Unisc (Redes, vol. 6, número especial, pág. 105 a 127, maio de 2001), o santa-cruzense, professor Flávio Kothe, lecionando na Universidade de Brasília, com pós-doutorado nas universidades de Heidelberg, Konstaz, Bonn e Berlim, nos introduz em um entendimento pouco comum sobre as colônias formadas por imigrantes teutos, em especial as surgidas em meados do século 19, caso das da região de Santa Cruz do Sul. Ele diz que existe “uma ligação profunda entre a repressão conservadora à Revolução Liberal de 1848, na Alemanha, e a segunda onda de imigração alemã para o Brasil, a partir de 1849. Foi um projeto revolucionário, a maior distribuição igualitária do produto social, num país dominado pelo latifúndio escravagista. As idéias que não podiam ser postas em prática na Europa foram transpostas como utopia concreta para o Brasil”.Ocorreu que, no processo de “integração” desse contingente de origem germânica no território brasileiro, as característica e propostas solidárias e liberais foram sucumbindo paulatinamente, dando lugar a arremedos de cultura e história. Kothe explica: “A maioria dos teuto-brasileiros descende de povos que vem sendo inexoravelmente extintos na Europa – pomeranos, silésios, sudetos, boêmios, lorenos, alsacianos alemães (...). No Brasil, essa consciência histórica tem sido sistematicamente reprimida, tanto pelo Estado, a escola e a Igreja, quanto pelos próprios teuto-brasileiros. Estes são levados, então, a se identificarem com a cultura dominante mais próxima, como o tipo gaúcho do sul do Jacuí, e ficam dançando fantasiados nos CTGs, usando bombacha e trovando, ou então se identificam com o estereótipo dominante do alemão, o bávaro, o tipo alemão mais reacionário, e daí celebram a Oktoberfest, usando calça curta de couro e erguendo canecões de cerveja, embora nenhum descenda de bávaros, pois não houve quase imigração de Bayern para o Brasil. Assumem como própria uma identidade e uma história alheia (...)”.Em relação aos políticos que representam as regiões de colonização alemã, o professor também é contundente, registrando que eles “não têm sido ‘conservadores’ no sentido de tentarem ‘conservar’ os princípios éticos de seus antepassados, mas por apoiarem o processo de uma crescente desigualdade social, respaldarem governos ditatoriais e ajudarem a destruir a identidade de grupos sociais diferenciados”. No mesmo parágrafo, Kothe arremata: “A história das regiões coloniais é, sob a aparência do êxito de sua concretização, a história da traição aos ideais fundantes. A política de ‘assimilação’ era necessária para que se aniquilassem esses ideais, e não se impusesse por toda parte o princípio da igualdade na distribuição de terras e na participação do poder, o princípio da liberdade de opinião, crença e de ir e vir, o princípio da fraternidade numa sociedade profundamente dividida em classes, camadas e minorias”.O escrito é bem mais rico do que os fragmentos que aqui pinçamos, merecendo uma leitura completa e detida. De qualquer forma, como foi dito, estamos diante de uma perspectiva tão inusitada quanto potencialmente transformadora do modo de compreendermos a complexidade do fenômeno da imigração e colonização alemãs em Santa Cruz do Sul. Quem sabe também sirva para repensarmos este jeito tão mercantilizado de “cultivar a tradição” no município e região.
Iuri J. Azeredo
Sociólogo




Jornal ARTIS nº 02
Outubro de 2009
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