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JORNAL ARTIS Nº 02 - PÁGINA 03




É difícil falar de teatro em Santa Cruz do sul sem lembrar a figura de Pilly Calvim. Seus trabalhos realizados em nossa cidade junto a Cia Espaço Camarim é o que nos faz respeitá-la e admirá-la cada vez mais. Sabemos que muitos já conhecem sua história, mas como nós do Artis somos novos na cidade também queremos ter a oportunidade de falar um pouco dessa grande atriz, que encanta a muitos e com certeza serve de inspiração para aqueles que estão em começo de carreira, pois como ela mesma diz, e não tem como não perceber ao conversar com ela: “é uma vida dedicada ao teatro”. Senhoras e senhores... Pilly Calvin.

Nascida na Espanha, Pilly veio para o Brasil com apenas dois anos de idade, morou em Santa Cruz do Sul e com oito anos foi para Bagé, onde mais tarde conheceu o teatro. Pilly foge um pouco das clássicas histórias de atores e atrizes, ela não sonhava desde pequenina em ser uma atriz, não procurou o teatro, ele sim foi quem a encontrou. Com 19 anos Pilly estava cursando biologia, seus amigos, da universidade, que já faziam teatro há algum tempo, certo dia a convidaram para assistir uma leitura de texto. Na hora da leitura uma das atrizes não compareceu, pediram então que Pilly lesse, e desde então nunca mais largou o teatro.

E foi assim que sua vida artística começou. Após concluir seu curso superior, já tinha certeza que não era biologia o que desejava para o seu futuro. Mas e a família? “Não pense que essa é uma profissão fácil, mas se é isso que você quer, a gente te apóia”; estas foram às palavras de seu pai quando a menina Pilar disse que iria ser atriz. De fato Pilly descobriu que realmente não era nada fácil buscar o seu sonho e as palavras de seu pai a acompanharam (e acompanham até hoje) durante sua trajetória sobre os palcos e em frente às telas.

Ainda em Bagé, Pilly e outros amigos atores inauguraram o “Teatro de Bolso”, um espaço onde eram realizados os ensaios e as apresentações do seu grupo. Depois de funcionar por alguns anos o “Teatro de Bolso” acabou sendo forçado a fechar por falta de dinheiro para mantê-lo, já que era um espaço locado e a proprietária decidiu elevar o valor do aluguel. Mas Pilly comenta com todo seu humor que ouve uma “certa maldição”, porque logo após abriram um supermercado no mesmo local e o nome “Teatro de Bolso”, que apesar de ter sido coberto com tinta, nos dias de umidade sempre ressurgia na parede. Depois do trágico e cômico acontecimento Pilly foi convidada por um diretor de Porto Alegre para atuar na peça “Dom Quixote de La Mancha”. Partiu para a capital onde morou e trabalhou por vinte anos. Por lá, ganhou diversos prêmios, como Tibicuera e Açorianos. E foi lá também que ingressou no cinema participando de oito curtas e dois longas “lua de outono” e “o mentiroso”. Também teve uma curta estada no Rio de Janeiro, onde participou da mini-série da Rede Globo “Rabo de Saia” (onde contracenou com Ney Latorraca, Lucinha Lins, Dina Sfat, entre outros).


Teatro ou cinema? Segundo Pilly o teatro e o cinema são duas linguagens muito diferentes, não é possível fazer uma comparação direta entre as duas áreas, cada uma tem os seus encantos. No cinema Pilly diz existir todo um “namoro com a câmera” e claro, permite que a cena seja repetida, caso não tenha ficado boa. Já no teatro se o ator errar precisa usar de sua criatividade. “Acredito que o teatro é um deleite para o ator” complementa. A atriz também viajou pela Espanha por dois anos com a peça “Di Puré”. Mas a essa altura sentiu a necessidade de dedicar mais tempo a seus pais, já idosos. E foi assim que Santa Cruz do Sul voltou a ser sua casa. E desde então ela começou a realizar seus trabalhos aqui. Pilly comenta que logo que chegou de volta a cidade o pessoal sentiu um certo estranhamento, mas o Mauro Ulrich, do Jornal Gazeta do Sul, acabou tendo o privilégio e a gentileza de apresentar para Santa Cruz a atriz Pilly Calvin.

Hoje, depois de muitos trabalhos realizados por aqui, Pilly diz sentir-se bastante “mimada” pelos santa-cruzenses. Mas o que a fez permanecer em Santa Cruz? Em sua resposta Pilly aproveita para dar umas dicas para quem está começando, diz ter encontrado aqui o grupo ideal para seguir seus trabalhos e seus projetos, algo muito precioso no teatro, Segundo ela esse é um grande passo para alcançar o respeito tanto do público, quanto dos patrocinadores Outra grande dificuldade que, juntos e aos poucos estão superando, é de não saberem (por, de fato não ser agradável) lidar com as questões burocráticas que envolvem a arte, Ela afirma que é sim de extrema importância ser um pouco “administrador” do seu trabalho, para conseguir sobreviver do teatro.


Um espaço para a cultura
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A idéia do “Teatro de Bolso” realizada em Bagé lá no começo da jornada de Pilly, sempre continuou viva em seu imaginário e em seus sonhos. Quando voltou para Santa Cruz do Sul, depois de muitas de experiências adquiridas em anos de trabalho no teatro, ela conheceu aqui pessoas também experientes e que partilhavam de seu sonho. E a história de Pilly Calvim vem sendo escrita há sete anos junto com Eduardo (Duca) Spall e Simone Bencke no Espaço Camarim, um lugar criado, segundo Pilly, para ser um local de encontro da arte e da cultura de nossa cidade, sempre aberto pra receber espetáculos de dança, música e, é claro, teatro.
No momento a Cia Espaço Camarim tem em seus projetos o Teatro Empresarial (cujo objetivo é usar a ferramenta do teatro como forma de comunicação dos empresários com seus colaboradores e clientes), cursos e projetos sociais (voltados a inclusão e apoiados por empresas locais). Outras pessoas já passaram pelo Camarim, como o ator e artista plástico Gilmar Almeida da Silva (atualmente no Tholl) e para Pilly se tornou a sua segunda morada, o local onde ela passa maior parte dos seus dias, ensaiando, apresentando, ministrando cursos, escrevendo roteiros e sendo palco de muitos acontecimentos culturais de Santa Cruz, “um local de trabalho que se tornou tão aconchegante que não dá vontade de ir para casa”, brinca a atriz. E como esse pessoal não para nunca, para o ano que vem o Espaço Camarim pretende viajar pelo Brasil com a sua montagem de “Dom Quixote”.



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