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JORNAL ARTIS Nº 3 – PÁGINA 03


Em 2010 a Íris está fazendo 25 anos de estrada, literalmente! Os irmãos Rodrigo e Renato Sperb e amigo Killy Freitas (pouco depois se juntou ao grupo o baixista Vicão, que ficou por 10 anos) desde os dezesseis anos rodavam quase todo o estado de bar em bar viajando de ônibus – “Às vezes saiamos quarta e voltávamos somente no domingo” – lembra Killy. E essa foi a maior escola da banda, onde pegaram o ritmo de palco, tranqüilidade, trocas de informação (conhecendo gente de todos os cantos) e a partir dai começaram a perceber como funcionava a cena cultural do estado. Em uma época em que a música autoral era muito mais valorizada a então Íris-Ativa começou essencialmente investindo em seu próprio som e, até mesmo nos covers que tocava, graças ao estilo próprio de interpretação acabou criando uma identidade musical que mantém a hoje, com influências que vão da MPB até o rock progressivo. Os vários gostos musicais dos integrantes levaram a banda a mesclá-los em suas musicas e, de certa forma, tornaram-se a marca registrada da banda. “É dessa “misturança” que saem as composições da Íris. Mas claro que isso de certa forma é o que faz a cara da banda. Porque os estilos não destoam, pois a maneira como os arranjos são feitos, os timbres dos instrumentos, a maneira que a gente se comporta tocando, Isso caracteriza as musicas de maneira uniforme” – diz Killy Freitas que, junto com o companheiro de banda e amigo Renato Sperb falaram conosco sobre suas carreiras e seus vinte e cinco anos de íris.

Hoje, com o baixista Drurys completando o quarteto, a Íris não faz mais tanto isso (rodar por aí com uma mochila nas costas), pois como lembra muito bem Killy, “Também não é só a banda que tem 25 anos, a gente também tem 25 anos a mais do que quando começou”. Desde 95, quando começaram a ficar cada vez mais raros os festivais de bandas e o mercado de shows se rendeu ao pagode e as bandas estritamente cover, a banda Íris teve de se adaptar um pouco e também buscar novos caminhos sem perder nunca a sua essência. Numa época em que a música alternativa foi ficando cada vez mais de lado e a música cover dominou (e domina até hoje) o cenário a banda se manteve graças a sua maturidade e experiência, como explica o guitarrista “E isso também nos ajuda em nosso momento de agora, faz a gente pensar muito mais antes de tomar uma atitude. Temos consciência de que nossa banda não é pop, sabemos que o nosso publico é mais restrito. Aos poucos estamos aprendendo a procurá-lo”.

Em 98 a banda lançou seu primeiro CD com o apoio da UNISC e para 2010, com contrato assinado com a produtora MS2, de Porto Alegre, lança seu novo CD que tem a produção de Veco Marques (Nenhum de Nós). O CD traz algumas musicas antigas, que segundo a sua produtora e a própria banda são muito boas, mas acabaram passando desapercebidas, e suas novas composições como “A Procura” (Renato Sperb) e “Outros Caminhos” (Killy Freitas e Renato Sperb). Pra quem já teve a oportunidade de curtir as novas músicas fica evidente a qualidade das mesmas e, sem dúvidas, resumem muito bem o que é a Íris, tanto pelas composições quanto pelos arranjos.

COMPOSIÇÕES PRÓPRIAS


O grupo sempre teve uma grande preocupação com a arte, com o exercício da criatividade na composição de letras e músicas próprias, tanto que seu primeiro show, em 1985, foi apenas com músicas próprias, “Porque naquela época ainda era viável. Como a banda vem de uma vertente dos anos 70 e 80, existia toda aquela questão bem forte do alternativo. Hoje a gente fica até com um pouco de medo, depende do lugar e da proposta ficamos sem saber a quantidade de covers que a teremos de fazer. Isso porque hoje em dia, musica própria num show inteiro é muito raro” – explica Renato.

No ano passado fizeram uma turnê pelo interior do estado com o SESC apenas com composição próprias, já que era um projeto de musica autoral. “Foi um grande prazer participar, indiferente se haviam vinte ou cinquenta pessoas assistindo o show; já valia a pena a oportunidade de tocar nossas musicas e sabemos que não é muita gente que tem essa oportunidade” – avalia Killy.

Quanto ao fato de que o público não é muito receptivo a composições próprias eles dizem ser uma questão cultural e que não é exclusividade de Santa cruz ou do nosso estado: “Essa é uma moda da América, porque na Espanha, por exemplo, o pessoal vai para os bares querendo ouvir a musica da banda que vai tocar lá. Não existe Cover!!! Pra nós seria um sonho se fosse assim aqui. Aqui se vai para o bar querendo ouvir cover!!!!” – lamentam com bom humor. “Mas isso, de certa forma gerou um comodismo nas bandas porque deixaram de compor e por conta disso também deixaram a criatividade de lado, ao invés de se preocupar em compor, precisam ficar tirando musica. A pessoa nem exercita o habito de criar. Até mesmo bandas famosas, como Jota Quest, acabam apelando para covers para poder levantar a galera”.

“Hoje existe um modismo que fez com que a música cover crescesse muito. Ela tomou conta do mercado de shows e tornou-se uma espécie de “câncer”. As pessoas não estão abertas ao novo, estão com os ouvidos fechados para uma musica nova. Querem aquilo que está no rádio”.

E é nesse meio conturbado que a Íris se mantém, a questão de buscar ouvir sempre coisas novas está muito presente em todos da banda. Buscar o desconhecido estimula a sua criatividade. Ouvir sem preconceito, aprender sempre com cada estilo e com as coisas novas que, graças a esse mundo globalizado (internet,...) podemos ter acesso com muita facilidade.


SUCESSO Vs. RECONHECIMENTO


Uma das maiores provas da maturidade do trabalho da Íris é a forma como tratam esse assunto que frustra a grande maioria dos artistas: “No interior é muito complicado tu querer ter uma notoriedade, ter o trabalho mais reconhecido do que já é. Tu vais até um determinado ponto e para. E a tendência das bandas é migrarem para a capital, coisa que a gente não fez. A gente decidiu se enraizar aqui, pela questão da família e um pouco de medo. Porque é inegável a qualidade de vida que se tem em Santa Cruz. Avaliando em termos profissionais não foi positivo, mas agora com o lançamento desse novo CD talvez seja a nossa oportunidade pra gente sair ou expandir”.

“O sucesso pra gente é tu poderes fazer teu trabalho e ter o devido reconhecimento. Conseguir levar a banda adiante. Se pensarmos bem, ter a banda há 25 anos já é um sucesso. Não é aquela história de estar na grande mídia, as pessoas gritando. Isso é um tipo de sucesso que não esperamos nem pretendemos alcançar. Aquela mentalidade de sucesso de mega star já saiu da nossa cabeça faz muito tempo. Hoje vemos que tem um monte de canais alternativos, então não precisamos estar na grande mídia”.

“Eu fico feliz quando vejo um show aqui do Vitor Ramil e vejo que lota! E ele não esta na mídia faz muito tempo. E isso não é sucesso, mas sim reconhecimento” – define Killy.

E foi assim um pedacinho do papo do Artis com esses caras batalhadores e que, antes de talentosos músicos, são artistas que estão há muito tempo tornando um sonho real; com uma grande humildade. Sem dúvida alguma são essas as características que fizeram a Íris chegar ao seu reconhecimento aqui na cidade e no nosso estado, sempre buscando outros caminhos, como na letra da música da banda: “E tudo vai mudar, vamos andar outros caminhos, nos perder e nos achar além... Vem caminhar comigo, que um mais um é mais que tudo”.
Conheça mais da ÌRIS em:
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