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JORNAL ARTIS Nº 04 - PÁGINA 02

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Depois de muitos pedidos de uma volta do Artis, cá está ele, reformulado, mais maduro, porém com o mesmo foco: ser o veículo impresso dos debates, opiniões e produção dos artistas de nossa cidade; cumprindo humildemente com o papel para o qual se propôs desde a sua criação em 2009.


Fazemos questão de salientar aqui que além do motivo citado acima esse informativo cultural somente está existindo graças à dedicação de nossa equipe, formada exclusivamente de artistas e ao apoio fundamental de nossos patrocinadores, que pelo fato de estarem apoiando um veículo cultural demonstram grande inteligência em entender que arte e cultura são estratégicas para o desenvolvimento de uma cidade.


Infelizmente muitas foram as iniciativas que não tiveram vida longa aqui em Santa Cruz e isso se deve a uma relação direta com as poucas empresas e entidades que pensam como nossos patrocinadores. Na maioria das vezes artistas e produtores culturais não são tidos como integrantes de uma importante cadeia produtiva, responsável por 17% do PIB brasileiro.


Santa Cruz, agora com um Conselho Municipal de Cultura – CMC caminha para a construção de seu Plano Plurianual (PPA) de Cultura, que dará conta de programar as políticas públicas culturais do poder público para os próximos dez anos. Sendo que o PPA da cultura será organizado pelo CMC, que nos próximos dias estará chamando uma Conferência Municipal, com o objetivo de criar colegiados setoriais onde quem decidirá sobre o que deve acontecer na cultura do município para os próximos dez anos será a nossa comunidade. Imaginamos que muitas serão as demandas, mas temos a certeza que a criação de um Fundo Municipal de Cultura que seja revertido também para a comunidade e os artistas deve ser logicamente a pauta principal do PPA.


Equipe Jornal Artis














Em atividade recente tive a satisfação de escutar palestra de nosso escritor e atual secretário estadual de cultura, prof. Assis Brasil. Como programado, o tema versou sobre o plano do governo que inicia para a pasta que está à frente.


Muitas questões abordadas impressionam, sobretudo o parco orçamento que o Governo do Estado destinou para esta pasta nos últimos anos. Para se ter uma ideia, enquanto o orçamento votado no ano passado destinou apena 0,07% de recursos para esta pasta, o estado do Acre destinou 1,6%. Quase 140 vezes mais. Mas para além dos números, foi gratificante ouvir da voz do secretário e escritor um claro posicionamento sobre uma postura a ser perseguida, no que, segundo seu raciocínio, trará por consequência maiores recursos. Uma política descentralizada e pública para a pasta.


Dois deverão ser os principais pontos para esta descentralização. O estímulo à multiplicação dos pontos de cultura e uma margem mínima de recursos que garantam iniciativas de interesse público em atividades culturais. Por limites de espaço, me deterei neste último.


Este aspecto tem por referência a recente história de financiamento da cultura Brasil afora. Parto de uma constatação básica: as diferentes modalidades de fundos de regulação pública que estimulam mecanismos de financiamentos para atividades culturais a algum tempo transformaram critérios públicos e universalizantes em particulares quanto às iniciativas que poderiam ou não obterem sucesso de realização. Subordinaram critérios públicos e diversos à vontades particulares de financiamento.


Os diversos fundos de cultura instituídos acabaram como lugares de outorga pública para iniciativas que, sabendo traduzir o gosto dos financiadores, obtém os recursos para o empreendimento. A questão já não é haver ou não haver recursos para atividades culturais, mas sim, a que critérios ajustar a proposta para que caia no agrado de quem, agente público ou privado, a financie. Esta instituição não é nova, leva o nome de mecenato e, apesar de suas boas virtudes, peca por focar o interesse na vontade particular, indiferente desta estar mais próxima ou distante do interesse público.


Até aqui, nada demais se a sociedade fosse mais equilibrada e se, em última análise, estes recursos não fossem em sua maioria, oriundos de renúncia fiscal. O Estado Moderno, se é que o somos, acaba por reinventar o mecenato, agora com a chaga do clientelismo. Promove-se determinados critérios particulares, ao gosto de quem financia, que assim dita o que deverá ser realizado como bem cultural, com recursos que deveriam estar subordinados à representações mais universais.


Além da reprodução de uma estética vinculada ao financiador (característica primeira do Mecenato, lá na Idade Média) este consegue agora ir além e reproduz a sua marca como carimbo da iniciativa que, se antes era de gosto privado, se oferece para a aceitação pública. A modernidade criou instrumentos suficientes para que o resultado, uma vez favorável à marca do financiador, tenha a aceitação de parcela do público, que ainda pagará por isso, por antecipação. Todos, em alguma medida, precisamos reaprender com grandes intelectuais que o sofrido século XX nos legou o profundo significado da indústria cultural e de seus efeitos perversos.


Um que outro pode estar se perguntando sobre os limites deste questionamento uma vez que muitas das boas realizações culturais que desfrutamos emergiram destes mecanismos. É verdade. Mas gostaria de alertar a todos nós, emergentes e aprendizes da Democracia, que milhares de boas iniciativas provavelmente sucumbiram aos reduzidos critérios da homogeneização dos financiamentos por não se enquadrarem em gostos particulares daqueles que têm a chave do cofre. Dois legados ficam rotos: a Democracia e a República. Quem agencia as expressões que estão fora dos critérios destes novos mecenas? Quem bancará a arte como universo diverso, contraditório e multifacetado?


Está claro que 0,07% do orçamento público não permite sequer disparar uma nova política mas foi um “banho na alma” escutar do sempre homem público mas agora também do governo que muita coisa se faz com o princípio da vontade. Ao que me cabe testemunhar, esta não lhe falta nem a sua equipe. A cultura é um bem de todos e deve, assim, ser deste todo uma expressão. Seja bem-vindo secretário!


Cesar Hamilton Brito Goes
Sociólogo – UNISC











Nascido da união dos atuadores e atuadoras do Teatro (Ins) Pirados e do Grupo Teatral Arteiros (oficinas de teatro do DCE da Unisc), desde 2008 que o Coletivo de Atuadoras e Atuadores Tribo de Rua vêm se reunindo em Santa Cruz e tem levando por toda a região teatro popular para as ruas, praças, bairros, acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), encontros dos catadores de materiais recicláveis e onde mais exista a necessidade de arte e liberdade.


E é justamente para falar de democracia e liberdade que a Tribo de Rua começa a usar a poética do teatro como ferramenta de transformação social e libertação das classes oprimidas para que elas sejam as protagonistas não somente no teatro, mas também protagonistas da sua própria história, das suas vidas.


Baseados nesses preceitos da obra “Teatro do Oprimido” do dramaturgo brasileiro Augusto Boal é que a Tribo de Rua iniciou esse ano com o seu Núcleo Independente de Estudos de Teatro do Oprimido (NIETO). O Coletivo pretende especializar-se cada vez mais em Teatro do Oprimido (TO) para concretizar o principal objetivo da Tribo de Rua: Levar para todos os cantos a Democracia e a Liberdade, não como uma palavra já gasta e sim como uma ação direta.


Até o final de 2011 a Tribo de Rua pretende fazer várias intervenções de TO nos bairros de Santa Cruz e também da região.